quinta-feira, 24 de abril de 2014

Emigras ou não emigras?

Cada vez menos concebo a possibilidade de um futuro em Portugal. Desespero por um trabalho digno e não me parece que tal seja possível. Agora dizem-nos que ganhamos demais. 485€ são demais... isto para quem sequer os recebe... "Engraçado" que nos países de onde vêm estes senhores, que dizem estas barbaridades aos portugueses, quem trabalha recebe bem. Se derem aos portugueses os ordenados desses países aposto que a produtividade aumentava bastante.Por algum motivo os portugueses são conhecidos como bons trabalhadores por essa Europa fora. E o problema não estará também na gestão? Naquela gestão típica portuguesa que quando uma empresa dá lucro, o mesmo é usado para luxos para os patrões mas não para investir e actualizar a empresa que depois entra numa espiral negativa? Naquele tipo de patrão que faz férias, compra carros para apresentar despesas mas não é capaz de aumentar ou distribuir esses valores pelos empregados dando-lhes uma motivação extra e, assim, aumentar a eficiência e eficácia da produção? Digo eu... Nesta época de crise são as empresas que dão as melhores condições que estão a crescer... isto não vos diz nada?

Já disse que não vejo futuro em Portugal? Sinto-me muito velha, muito acabada e muito cansada. Muito desiludida com este país que não me deixa contribuir, que não me deixa trabalhar e ganhar condignamente, que não me deixa ajudar ao crescimento. Farta desses "empresários" e "empreendedores" que só escravizam e que são vistos como "casos de sucesso" porque atingem muitas vendas, muito dinheiro... mas ninguém vai ver as condições nas quais trabalham quem trabalha para eles (quando a produção é sequer feita cá). Tanto rebuliço pelas condições de trabalho no Bangladesh...já entraram em algumas fábricas portuguesas? Ficariam surpreendidos com as semelhanças com os ditos países "não desenvolvidos".

Eu quero trabalhar mas não quero ser escrava. Não quero pagar para trabalhar, quero receber pelo trabalho que prestei. Não vejo essa possibilidade cá.

Dizem os senhores que ganhámos demais... dizem... mas depois vão aos milhares de licenciados de Portugal trabalhar para os seus países, vão receber bem...mesmo bem se comparar-mos os salários de cá com os de lá! (já para não falar da diferença de ordenados dos trabalhadores não qualificados de cá e de lá).
 Se calhar sou eu que vejo qualquer coisa estranha aqui mas não é estranho que eles não queiram que paguem mais aos portugueses mas depois dão bons salários lá aos nossos  (com estudos ou sem)?

Sou só eu que vejo este país a ficar velho, a tornar-se insustentável? Quem vai manter isto daqui a 20, 30, 40 anos? Acreditam estes governantes que os que emigram vão voltar? Trazer remessas de dinheiro para Portugal e manter o país? Eu duvido...Aliás conheço muitos emigrantes e nenhum pretende voltar. Nenhum. Por algum motivo há-de ser. Os únicos que vi voltarem foram aqueles que não queriam trabalhar, que não queriam dar o litro... são esses que estão a voltar. São esses o futuro de Portugal? Aqueles que não querem suar pela camisola, que não darão o seu máximo, aqueles que pretendem - e tentam - viver à conta das ajudas do Estado? Este país está a ficar velho, ter filhos é quase um pecado capital com direito à pena de morte - ou menos dramático - com direito à expulsão quase certa do mercado de trabalho. Ter um filho é como ter registo criminal: é um facto que nos irá sempre perseguir. Depois queixam-se da baixa natalidade... E quem consegue planear ter filhos com esta instabilidade? Como planear ter filhos se não sabemos se amanhã teremos que voltar para casa dos pais ou se ficaremos todos sem comida à mesa? Já nem falo em "qualidade de vida" mas sim nas condições mínimas... "Engraçado" que também aumentou exponencialmente as vendas de carros de luxo em Portugal... sou só eu que vejo uma coisa estranha nestes factos?

Se tiver que emigrar, não pretendo voltar. Se me derem uma oportunidade que possa agarrar irei dar o meu máximo e o meu melhor. Só quero uma oportunidade. Mas é dificil manter a esperança, procurar infinitamente cansa, só encontrar esquemas ou aldrabões cansa. Cansa. Esperar pelo amanhã que nunca vem, cansa. E eu nem vivo assim tão mal...mas não é isto que quero! Eu quero contribuir, ser activa, trabalhar. Trabalhar para mim, para ajudar nas despesas da minha casa, para este país que não me deixa. Não quero ser dependente do meu marido, quero trabalhar, descontar, contribuir... mas não consigo. Ninguém me deixa.

Estou tão frustrada!

4 comentários:

  1. Enquanto lia o teu post pensava "caraças mas este post devia estar nas noticias, devia ser espalhado por este Portugal a ver se alguém acorda", no fim pensei "caramba eu quero que está mulher seja presidente". Infelizmente os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres aumentam e gasta-se dinheiro em formação para oferecer mão de obra qualificada aos outros países, somos mesmo uns porreiros.

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    1. Eu não sei se estarei a dizer algo que eles não saibam, aliás a minha consideração por eles (que já não é muita, admito) desceria a pique se acreditasse que eles não sabem isso. Não sei se será pior eles não saberem ou não quererem saber... O que sei é que basta irmos, por exemplo, ver como foi resolvida a Grande Recessão e percebemos que não foi com este tipo de politicas, irmos ver os exemplos reais de sucesso e percebemos quais as medidas, basta perceber um pouco do mercado para entender que para a roda andar é preciso que haja quem gaste... e o que estamos nós a fazer? A parar a nossa economia, a parar o consumo...

      O problema não são só os patrões (excepto aqueles que parecem que negoceiam mais um mercado de escravatura do que propriamente pagarem por um serviço que lhes é prestado) mas é (a meu ver) as leis que lhes permitem tratar as pessoas como lixo, que os protegem mesmo quando dão salários abaixo do legalmente permitido. Afinal quando no IEFP, que pertence ao Estado, se encontram propostas de trabalho que garantem a licenciados um ordenado de 350€/mês... como é que se pode querer que os patrões dêem as condições minimas? Se já sabemos que se vão aproveitar, se já conhecemos a sua mentalidade porque não garantir que as leis garantam a dignidade das pessoas?

      O problema é que nós temos mesmo muito mão de obra qualificada, excelentes profissionais (mesmo não qualificados) a serem "roubados" a Portugal... aliás basta ligar a TV e volta e meia falam do fulano Y, X ou Z, dos luso-descendentes e dos emigrantes que atingiram prémios Y e Z ou porque se destacam nas áreas A e B... enquanto isto eu juro que me sinto irritada. Tanta admiração, tanto mediatismo mas na hora de os segurar, de garantir que ficam cá a dar cartas nas suas áreas, a mostrar o melhor que há em Portugal e a chamar investidores... não... estão todos lá fora porque é lá fora que conseguem ter um emprego que lhes pague as contas e não os faça andar diariamente com medo do próximo dia... ou porque só lá fora é que conseguem trabalho na sua área.

      Nós somos mesmo porreiros... tão porreiros que não consigo ver, a longo prazo, um grande futuro para Portugal se continuarem neste registo... Não percebo onde se meteram os economistas e que contas andaram a fazer para acharem que este país vai a algum lado com estas medidas... (se calhar o problema é meu).

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  2. Compreendo-te tão bem D.
    Se tudo isto tivesse acontecido una anos antes...eu já cá não estava...agora com as meninas...tudo é mais complicado....

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    1. Eu também entendo Suri... eu já era para ter ido há uns anos (quase 6 mais precisamente) mas no último momento a vaga foi retirada, o R. arranjou um trabalho, eu tive uma gravidez de risco... enfim, um manancial de coisas e circunstâncias que fez com que ficássemos cá.
      Não sei se não nos iremos arrepender de o termos feito mas a ideia continua cá... se nos aparecer uma boa oportunidade não iremos olhar para trás. Vamos para onde nos parecer existir um futuro melhor para os 3.
      No meu caso não é a ideia de emigrar que me me mete esta impressão toda (já fui muito feliz fora de Portugal) - é a ideia de ter que mudar de país por falta de opção, de o fazer por ser obrigada e não por existir esta vontade nos 3.

      Com crianças mais velhas é mais complicado, sim, mas infelizmente conheço algumas pessoas que foram obrigadas a abandonar o país para conseguirem subsistir e pagar as contas. Emigraram com os seus 49 e 53 anos (com filhos de 15 e 16 que também foram) e hoje 2 anos depois já não fazem intenções de regressar - nem eles, nem os filhos. São casos que começam com muita infelicidade mas felizmente correram bem.

      Por outro lado, retirar os filhos assim de forma abrupta do seu meio também é muito complicado e pode correr mal, trazer angústias, isolamento... enfim, correu bem neste caso, talvez noutros não aconteça o mesmo.

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