quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Relatos na primeira pessoa

Hoje ouvi uma Brasileira que está a fazer Erasmus em Portugal a dizer umas coisas que me deixaram mesmo pensativa.

A rapariga é de S. Paulo e dizia ela que tinha estranhado algumas coisas que por cá se fazem.
Diz ela que por lá as pessoas não saem até tarde por receio de serem assaltadas, a maioria está em casa ainda antes das 22h (antes de escurecer) e que permanece lá durante toda a noite; a maioria das pessoas tem várias fechaduras, portas grossas e tendem a ter tudo trancado; disse-nos que as pessoas não se juntam em praças, que não ficam em esplanadas porque se sentem demasiado expostas, inseguras e com medo de serem assaltadas, levadas por arrastões ou que sejam atingidas por balas perdidas. Em suma, disse-nos que todos estão constantemente com medo, sempre alerta mas nem se apercebem disso porque é o normal, a única coisa que conhecem.

Eu não tinha noção que lá era assim.
Disse-nos ela que tinha ficado muito admirada porque as pessoas cá não trancam as portas, só as batem (ou no máximo, trancam mas só com uma fechadura), que ficou espantada por ver os alunos a conviver nas esplanadas, a andar livremente pelo campus universitário, assim como o facto de estarem sentados nas praças, com as coisas pousadas ao seu lado sem grandes medos ou cuidados. Disse que era impossível fazer isso em S. Paulo, que ninguém ficava assim tão exposto durante mais de 5 minutos por lá, que as pessoas se sentem vulneráveis, passíveis de serem atacadas a qualquer momento.
Disse que se sentia segura, livre e que tinha saído dela um enorme peso psicológico, que deixou de olhar para trás, que deixou de estar sempre alerta. Diz que se sente livre por não ter que controlar sempre as horas para ir para casa (porque lá queria chegar a casa sempre antes de escurecer), que não se sente insegura pelo caminho, que não tem medo de o percorrer sozinha. Diz que nunca se tinha sentido assim.
E se isto poderia ocorrer somente por ser uma cidade mais afastada das confusões a verdade é que ela nos disse que fora a Lisboa passar uns dias, sozinha, e que tinha tido a mesma sensação: de segurança.

É impressionante ouvir isto na primeira pessoa. Nunca pensei que houvesse assim tantas diferenças.

2 comentários:

  1. Por acaso tinha ideia que no Brasil era um bocado complicado mas não em São Paulo que me parece ser visitado por muitos turistas.

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    1. Pois, eu também tinha essa ideia. E nunca na vida pensei ouvir um brasileiro dizer que não ficam nas praças por terem receio de serem assaltados ou que tentam estar em casa sempre antes de escurecer (eu até tinha a ideia que eles saíam muito à noite).
      Pelo relato dela deu mesmo a sensação que ela sentia um grande alivio cá e que nunca se tinha sentido assim segura lá.
      Foi impressionante, para mim, ouvi-la.

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