quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Abandonar os estudos

Quando acabei o secundário tinha uma média razoável mas não consegui entrar na universidade que queria (2 décimas que me frustraram bastante) mas entrei em Coimbra (no curso que queria). Não fui. Não tinha dinheiro para me sustentar lá, os meus pais também não.
O meu pai ofereceu-se para emigrar de novo para me pagar os estudos mas eu não aceitei. Todos na minha família se insurgiram, muitos disseram que era porque queria uma desculpa para me juntar com o R., outros acharam que eu estava a ser estúpida e orgulhosa. Na realidade não aceitei porque o meu pai tinha recebido um diagnóstico pouco antes de voltar para Portugal de vez: mais 5 anos naquele trabalho e naquelas condições e ele seria muito provavelmente condenado a viver o resto da vida numa cadeira de rodas.

Por isso, a minha decisão prendeu-se entre o meu curso, o meu sonho e a grande probabilidade de ver o meu pai numa cadeira de rodas por minha culpa, para sempre.

Eu escolhi seguir a minha vida por outra via, não tinha futuro em casa dos meus pais e nada me prendia aquele lugar, juntei-me com o R., tínhamos planos para trabalhar, ganhar dinheiro e então investir na minha formação. Infelizmente a vida puxou-me o tapete e acabei dependente do R. durante um largo período de tempo. Felizmente entre a bolsa da DGES e as bolsas de mérito que tenho conseguido alcançar, tenho conseguido pelo menos suportar as despesas com a minha educação, com o meu curso. Mas não deixo de me sentir incompetente muitas vezes, de me sentir um fardo, um empecilho que não contribui. Adiante...

É com muito bons olhos que vejo esta iniciativa: "AMI cria fundos para ajudar estudantes a pagar propinas".

Acho que muitas pessoas encaram todos os estudantes como uns malandros que andam lá a passear e a gastar o dinheiro dos pais. Se os há? Sem dúvida (nunca tinha encontrado tantos como este ano...) mas a realidade é que há lá muitos a dar o litro também, preocupados com o que os pais andam a gastar com eles, alguns tentam trabalhar (nem todos conseguem trabalho), tentam poupar o mais que podem e muitos não sabem se poderão continuar ou não até finalizar os estudos, outros são obrigados a desistir.

2 comentários:

  1. Eu tinha feito o mesmo. Uma culpa dessas é difícil de carregar. Infelizmente também já vi muito pessoal que anda a gastar dinheiro aos pais por diversão mas isso os pais têm de estar atentos.

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    1. Acho que não há nada que valha tanto como a nossa saúde, no fim consegui estudar na mesma. Só de imaginar que neste momento o meu pai estaria confinado a uma cadeira de rodas dá-me arrepios.
      Já me chega vê-lo (por vezes) de cama por não aguentar as dores nas costas, vê-lo aflito e sem se aguentar de pé... é sem dúvida uma culpa que iria ficar comigo para sempre.

      Em relação aos estudantes concordo contigo, não é muito normal que os pais achem aceitável que os filhos tenham quase todas as cadeiras atrasadas e que aceitem a desculpa que é tudo muito dificil. Que até haja quem reprove em uma ou outra até é possível mas em muitas e constantemente? É mesmo difícil.
      Em casa dos meus pais eu sempre ouvi que a partir do momento em que começasse a tirar negativas era tempo para sair da escola porque para lá andar tinha que mostrar resultados e eles nem se meteram nas nossas opções: eu segui pela via das ciências e tecnologias e o meu irmão foi para artes, nessa parte não se intrometiam mas depois queriam boas notas.

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