sábado, 25 de outubro de 2014

Pânico



Quantas vezes na vida o sentiram?

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Acordo de manhã. Acordo por mim. Sozinha. Estranho o facto do "ratinho" não me ter vindo acordar, pedir o pequeno-almoço ou alguma coisa do género. (É estranho mas não é inédito). Levanto-me, vou à casa-de-banho e entretanto mando um "bom dia" para o ar. Ninguém responde. (É estranho mas não é inédito). Saio da casa-de-banho e vou à sala: ele não está lá. Estranho o facto de ainda não ter acordado - são perto das 9.30h - dirijo-me ao quarto dele e ele não está na cama. Acredito então que o "ratinho" deve andar na cozinha a roubar bolachas ou alguma coisa boa. Vou à cozinha e não está lá ninguém. Entro de novo no quarto dele, no meu, no outro quarto, vejo na sala e na casa-de-banho... não o encontro. Verifico as portas de entrada do piso de cima - estão trancadas, assim como as janelas - tal como deixei na noite anterior.
Lentamente o medo começa a instalar-se. Penso que ele poderá estar na garagem, a jogar naquela televisão onde está o meu hiper-mega-antigo Super Nintendo que o miúdo adora. Seria estranho ele ir para lá sozinho. (Estranho mas não é inédito). Dirijo-me à porta da garagem e está destrancada. Começo a pensar para mim mesma que sou parva afinal ele só deve estar na garagem. Vou à garagem não vejo ninguém. Verifico todas as portas da garagem e estão trancadas. Entro em desespero, o medo instala-se. Grito: BÉ!!!
Ele não responde.
Revisto a garagem.  Não o encontro.
Lembro-me que pode estar escondido no piso de cima (esconder-se é um hábito dele). Subo as escadas e grito por ele outra vez: silêncio.Verifico todos os seus locais preferidos para se esconder e digo "se te estás a esconder sai agora porque vou chamar a policia! Não tem piada!". Ninguém responde.

Lembro-me que ele pode estar no jardim. Ele nunca foi para o exterior sem me avisar primeiro mas há uma primeira vez para tudo.  Estou no jardim e chamo por ele. Ele não responde.  Volto para dentro de casa, subo as escadas grito mais uma vez por ele: silêncio.
Grito outra vez que se está escondido não tem piada, que tem que sair agora porque vou chamar a polícia.

[Mentalmente vem-me à ideia mil e uma coisas que já li sobre o assunto, mil e um raptos dos quais já ouvi falar, coisas que analisei, coisas que vi. Penso naquele serial killer que entrava em casa de mães que estavam somente com os seus filhos em casa para os matar a eles mas para deixar as mães viver. Lembro-me de dados estúpidos, coisas que não me quero lembrar. Lembro-me de ter dito há já algum tempo que o meu maior medo era que ele fosse raptado agora, com 5 anos, porque ninguém raptava crianças com aquela idade para os adoptar. Só haviam 2 destinos possíveis: escravatura ou para órgãos. E o tipo de escravatura mais "inofensiva" não é aquela para a qual raptam crianças aqui.]

Estou a chorar, desesperada, pego no telemóvel e começo à procura no número da policia, enquanto isso estou a calçar os chinelos para ir a casa do meu vizinho (que é inspector da PJ).
Grito mais uma vez: BÉ!!!

E é então que ouço um "QUÊ?"...grito outra vez... torno a ouvi-lo a responder. Entro na cozinha de rompante, não sei bem qual era o meu aspecto mas assim que ele me vê, assim que olha para mim desata a chorar. Agarro-o. Abraço-o. E choro, ele chora comigo. Depois pergunta-me o que foi e eu explico-lhe, pergunto-lhe onde raio estava (na despensa!) e ele chora comigo.
A m*** da sensação que tinha até então não desapareceu logo, ainda está aqui um bocadinho dela... como se nos arrancassem o coração, a mente, a capacidade de pensar, a capacidade de respirar e ficasse somente o desespero. A adrenalina, o coração aos saltos, o âmago completamente revolto, fiquei mal disposta, enjoada, enojada, com medo.

Eu achava que já tinha sentido pânico. Estava tão enganada.

2 comentários:

  1. Novamente não sendo comparável também fico muito assustada quando não encontro um dos meus animais, mais os cães visto que os gatos andam mais livres. Também primeiro dou uma vista rápida em casa, depois vou a rua volto para casa ver cada divisão, e por aí. Tenho é a desvantagem que por mais que chame normalmente não respondem (se estiverem aflitos ganem).

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    1. É normal sentirmos isso para com o que gostamos - sejam pessoas ou animais. Entendo que não tenhas filhos para comparar :)
      Eu simplesmente nunca me tinha sentido assim. Foi mais do que o receio inicial, aquela ânsia inicial quando estamos à procura mas não encontramos de imediato (que já senti em alguns momentos) foi pânico puro.

      Ele responde quando ouve o meu tom a subir - não gosta de me ver/ouvir assustada mas gosta de se esconder. Desta vez não sei se ele me ouviu e queria aproveitar para brincar ou, como a despensa é um tanto "blindada" (as paredes são em betão), nem sequer me ouviu antes.
      Ele disse que não me tinha ouvido mas como eu estava tão aflita também pode ter dito isso por achar que eu podia chatear-me com ele...

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