quarta-feira, 18 de junho de 2014

Os pais nem sempre têm razão


O meu irmão está prestes a fazer 18 anitos, está a acabar o 12º ano,  não tem perspectivas de futuro cá, não quer seguir o ensino tradicional, logo, ele decidiu que queria emigrar para poupar o dinheiro para depois poder investir na carreira que pretende ter.
Ora eu achei que ele estava a ser bastante maduro ao pensar na vida desta forma e fiquei muito feliz por o ver a tomar estas decisões, por ver que ele não iria desistir, nem se iria acomodar (na casa dos pais, perto dos amigos etc), por o ver a ter cabeça e um plano bem delineado.

Só que nem tudo são rosas e há coisas que nenhum de nós previu:

Quando o P. (meu irmão) me contou que o nosso pai lhe tinha dito que não o ajudava a emigrar vi essa atitude dele como uma grande injustiça (eu não sei se já vos disse mas eu tenho um grande defeito, que já me trouxe sérios problemas muitas vezes, eu não consigo ver injustiças e ficar indiferente, mesmo que nada tenham a ver comigo). Ora aqui estava em causa o futuro do meu irmão e era logo o meu pai, nosso pai, que ajudou provavelmente uma dezena de pessoas a emigrar, que os levou com ele para que não passassem pelas ruas da amargura como ele passou quando emigrou pela primeira vez, que se tinha disponibilizado a arranjar trabalho lá para o R., que era tão a favor da emigração e agora vedava o acesso ao meu irmão?!

Disse ao P. que o ajudaria como poderia mas que também iria falar com o nosso pai.

Na nossa primeira conversa (há uns 3 meses atrás) perguntei-lhe directamente porque é que ele não queria que o P. emigrasse. Resposta: "o que vai ele fazer para lá?!". Fiquei incrédula.  A pergunta que mais adequada seria "o que vai ele vai  fazer AQUI?!"
 Vai receber o ordenado mínimo (ou até menos), não vai conseguir poupar para o que quer ou irá demorar provavelmente 3 ou 5 vezes mais para conseguir o mesmo . Iria ficar a ver os anos a passar e sem ter o dinheiro para o que pretende, não teria perspectivas de evolução de carreira, de sequer ter uma carreira, iria passar a vida a "contar" tostões e a ser dependente de dos nossos pais. Como iria ele construir um futuro cá?
Não interessava nada o que eu dizia, ele simplesmente não me dava razão.*

Este assunto tem sido debatido até à exaustão com ele nos últimos 3 meses mas este domingo passado estava o meu pai a falar com um tio meu: "Ele vai emigrar. Afinal o que é que ele fica a fazer AQUI?!"

__
*Eu entendo o meu pai. A filha saiu de casa aos 18 e agora o filho vai pelo mesmo caminho. Ele gosta de nós. Muito. Fez imenso por nós mas agora vê o meu irmão mais que um filho, vê um amigo e está a tentar reviver a adolescência dele através do meu irmão. E agora o P. quer sair de casa, emigrar para bem longe e ele sente que está a ficar para trás. Mas não é isso que está a acontecer, nem o que irá acontecer.

4 comentários:

  1. Tema muito difícil este, para uma mãe. Nunca pensei estar a criar duas filhas para as ver ir para longe...mas temo que não haja outra solução: Acima de mim estão elas e eu querer que elas sintam que o futuro lhes sorri! E este pais não está para velhos, muito menos para novos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu entendo-te Suri e também entendo o meu pai (em muitos sentidos este irmão é como um filho para mim e também gostava de o manter debaixo da minha asa para sempre mas sei que não é o melhor para ele).
      Por isso mesmo senti tanta necessidade em o ajudar pois sei que cá esgotaram-se as suas hipóteses e vê-lo a emigrar sem rede de apoio era o pior cenário que poderia imaginar. Claro que o tentaria ajudar da melhor forma possível mas o apoio do meu pai (tendo em conta os contactos dele) era o ideal pois temos 100% a certeza que ele não irá entrar numa rede de escravatura ou de condições sub-humanas de trabalho (que, parecendo que não, não são casos assim tão isolados).

      Por isso me meteu tanta confusão esta atitude do meu pai. Ele foi enganado inicialmente e decidiu ajudar os outros para que não tivessem que passar pelo mesmo. E agora não ajudava o filho?!
      Felizmente mudou de ideias.

      Eliminar
  2. Deve ser difícil ele ver o filho a fazer algo que ele sabe que custa muito mas infelizmente Portugal não nos deixa muita esperança.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É sim, Milka é muito difícil ver partir.
      Mas a nível de condições e qualidade de vida ele lá terá muito melhores, já para não falar que só assim terá possibilidade de conseguir pagar a universidade que pretende frequentar e investir na formação dele.
      Cá é impossível pois nem sequer existe o que ele pretende.

      Eliminar